Biópsia líquida é um teste molecular que permite detectar, a partir de uma amostra de sangue (ou outro fluído corporal), células tumorais circulantes (CTC) ou fragmentos de DNA tumoral circulantes (ctDNA), liberados pelo tumor primário ou pela metástase.
As técnicas moleculares utilizadas neste teste são o PCR digital ou NGS.
É um teste seguro e não invasivo, já bastante utilizado nos casos de câncer de pulmão e câncer colorretal. Apesar do seu alto custo, a tendência do preço é diminuir à medida que o teste seja mais comercializado.
Agora atenção para alguns conceitos importantes:
DNA tumoral circulante (ctDNA) consiste em fragmentos de DNA, provenientes de células tumorais que se romperam, e estão circulando na corrente sanguínea.
Célula tumoral circulante (CTC) são células íntegras, que se desprenderam do tumor, e estão circulando na corrente sanguínea.
Estudos recentes mostram que as CTCs podem ser detectadas em estágios iniciais do câncer de mama. A detecção de 5 células tumorais já é o suficiente para positivar o teste; uma sensibilidade altíssima!
Quais as principais aplicações da biópsia líquida na oncologia de precisão?
- Detecção de doença residual mínima
- Identificação precoce de mecanismos de resistência a terapia
- Monitoramento de resposta a tratamento
- Detecção precoce de recorrência
O que podemos detectar através da biópsia líquida?
- Mutações
- Alteração de número de cópias (CNV)
- Fusões
- Instabilidade de microssatélites (MSH)
O que pode influenciar na liberação do ctDNA ou das CTC na corrente sanguínea?
- Tipo de tumor
- Tamanho e taxa de crescimento
- Vascularização do tumor
- Progressão da doença
- Estagio do tratamento
Vou explicar brevemente os detalhes de dois testes de biópsia líquida disponíveis atualmente, observe suas diferenças:
Guardant360: O teste Guardant360 biópsia líquida, utiliza sequenciamento de nova geração para identificar alterações somáticas em 74 genes associados ao câncer. Os tipos de alterações genômicas detectadas pelo Guardant360 incluem variantes de nucleotídeo único (SNV), amplificações de genes, fusões, pequenas inserções ou deleções (70 pares de bases) e mutações em sítio de splicing. Além dessas, também avalia instabilidade de microssatélites (MSI). Apenas uma amostra de sangue é necessária para esse exame.
Signatera: Signatera é um teste personalizado para a detecção longitudinal de DNA tumoral circulante (ctDNA). Cada ensaio Signatera é desenhado especificamente para um único tumor, para um determinado paciente.
Como isso é feito?
Primeiramente, extrai-se o DNA tumoral (bloco de parafina) e o DNA genômico (sangue periférico); um exoma é realizado em cada material. Utilizando um algoritmo próprio, variantes clonais identificadas no tumor, mas ausentes no DNA da linhagem germinativa, são selecionadas para desenhar um ensaio de PCR multiplex personalizado. Dessa forma, cada paciente terá seu próprio painel de variantes, e a cada coleta de sangue, o DNA circulante do tumor (ctDNA) será estudado no intuito de encontrar essas variantes pré definidas.
É importante ressaltar que nenhum desses testes é validado para a detecção de variantes germinativas e que o uso da biópsia líquida, quando bem indicada pelo oncologista, pode trazer inúmeros benefícios às pacientes com câncer de mama.
Na revista Nature do mês de janeiro/23 foi publicado artigo que mostra os resultados do estudo GALAXY (braço observacional do CIRCULATE- Japan) que apoiam o uso do teste para detectar DNA tumoral circulante (#ctDNA) após a cirurgia de câncer colorretal, para identificar pacientes com maior risco de recorrência e aqueles que provavelmente se beneficiariam de quimioterapia adjuvante.
Outro estudo, também recentemente publicado, mostrou os resultados obtidos no trial EMERALD, com pacientes com câncer de mama avançado ou metastático, já tratadas previamente com inibidor de CDK4/6. As pacientes foram testadas com biópsia líquida para identificar mutações no gene ERS1.
Mutações no gene ESR1 levam à ativação do receptor de estrógeno (RE), independente de estrogênio, causando resistência ao tratamento com inibidores de aromate, mas não ao tratamento com medicamentos que são degradadores seletivos de RE – #SERDs.
A possibilidade de identificar essa alteração molecular de forma minimamente invasiva e com alta sensibilidade através da biopsia líquida, permitiu que pacientes recebessem uma droga alvo específica – o #elacestranto, que demonstrou maior sobrevida livre de progressão quando comparada a terapia endócrina padrão.
Dois grandes estudos mostrando a aplicabilidade da biópsia líquida na condução clínica de tumores de alta prevalência em nossa população.
Um abraço,
Dra. Ana Carolina Paniza
Patologista Molecular
CRM-SP 151630