Será que apenas exames de imagem podem ser utilizados no monitoramento das pacientes com câncer de mama?
O estudo clínico plasmaMATCH (UK), publidado na The Lancet Oncology, randomizou pacientes com câncer de mama para avaliar a aplicabilidade da biópisa líquida na condução clínica de casos metastáticos. Utilizando o teste GUARDANT360, o estudo mostrou validade e utilidade prática do DNA tumoral circulante (ctDNA) para selecionar pacientes aptas à terapia alvo, sem a necessidade de realizar nova biópsia.
Atualmente, outros inúmeros estudos estão sendo conduzidos com o intuito de mostrar que o teste pode ser utilizado inclusive em outros momentos da história clínica dessas pacientes.
Mas o que é biópsia líquida?
Biópsia líquida é um teste molecular que permite detectar, a partir de uma amostra de sangue (ou outro fluído corporal), células tumorais circulantes (CTC) ou fragmentos de DNA tumoral circulantes (ctDNA), liberados pelo tumor primário ou pela metástase.
As técnicas moleculares utilizadas neste teste são o PCR digital ou NGS.
É um teste seguro e não invasivo, já bastante utilizado nos casos de câncer de pulmão e câncer colorretal. Apesar do seu alto custo, a tendência do preço é diminuir à medida que o teste seja mais comercializado.
Agora atenção para alguns conceitos importantes:
DNA tumoral circulante (ctDNA) consiste em fragmentos de DNA, provenientes de células tumorais que se romperam, e estão circulando na corrente sanguínea.
Célula tumoral circulante (CTC) são células íntegras, que se desprenderam do tumor, e estão circulando na corrente sanguínea.
Estudos recentes mostram que as CTCs podem ser detectadas em estágios iniciais do câncer de mama. A detecção de 5 células tumorais já é o suficiente para positivar o teste; uma sensibilidade altíssima!
Quais as principais aplicações da biópsia líquida na oncologia de precisão?
- Detecção de doença residual mínima
- Identificação precoce de mecanismos de resistência a terapia
- Monitoramento de resposta a tratamento
- Detecção precoce de recorrência
O que podemos detectar através da biópsia líquida?
- Mutações
- Alteração de número de cópias (CNV)
- Fusões
- Instabilidade de microssatélites (MSH)
O que pode influenciar na liberação do ctDNA ou das CTC na corrente sanguínea?
- Tipo de tumor
- Tamanho e taxa de crescimento
- Vascularização do tumor
- Progressão da doença
- Estagio do tratamento
Vou explicar brevemente os detalhes de dois testes de biópsia líquida disponíveis atualmente, observe suas diferenças:
Guardant360: O teste Guardant360 biópsia líquida, utiliza sequenciamento de nova geração para identificar alterações somáticas em 74 genes associados ao câncer. Os tipos de alterações genômicas detectadas pelo Guardant360 incluem variantes de nucleotídeo único (SNV), amplificações de genes, fusões, pequenas inserções ou deleções (70 pares de bases) e mutações em sítio de splicing. Além dessas, também avalia instabilidade de microssatélites (MSI). Apenas uma amostra de sangue é necessária para esse exame.
Signatera: Signatera é um teste personalizado para a detecção longitudinal de DNA tumoral circulante (ctDNA). Cada ensaio Signatera é desenhado especificamente para um único tumor, para um determinado paciente.
Como isso é feito?
Primeiramente, extrai-se o DNA tumoral (bloco de parafina) e o DNA genômico (sangue periférico); um exoma é realizado em cada material. Utilizando um algoritmo próprio, variantes clonais identificadas no tumor, mas ausentes no DNA da linhagem germinativa, são selecionadas para desenhar um ensaio de PCR multiplex personalizado. Dessa forma, cada paciente terá seu próprio painel de variantes, e a cada coleta de sangue, o DNA circulante do tumor (ctDNA) será estudado no intuito de encontrar essas variantes pré definidas.
É importante ressaltar que nenhum desses testes é validado para a detecção de variantes germinativas e que o uso da biópsia líquida, quando bem indicada pelo oncologista, pode trazer inúmeros benefícios às pacientes com câncer de mama.
Parabéns a você que chegou ao final dessa série e pode aprofundar seus conhecimentos em patologia molecular!
Um abraço,
Dra. Ana